27 abril 2010

A Alimentação e o Yôga Antigo

Sinto que o progresso requer, numa determinada etapa,
que paremos de matar os nossos companheiros,
os animais, para a satisfação dos nossos desejos físicos.
Gandhi
Cada espécie animal tem um determinado padrão digestivo, com características específicas, segundo as necessidades de alimentos determinadas pelos hábitos dos seus antepassados, desde há milhares de gerações. No nosso caso, enquanto seres humanos, importa saber quais os alimentos necessários para alimentar o nosso corpo físico de forma saudável.
Importa também compreender que a nossa alimentação interfere sobremaneira nas nossas emoções, comportamentos e pensamentos. Ela interferirá também com a nossa descendência e com a própria espécie.
Atribui-se a Hipócrates a frase: "somos o que comemos". Os antigos yôgins levavam este conceito bem a sério, adoptando uma dieta baseada na ingestão de alimentos ricos em energia biológica. O ovo-lacto-vegetarianismo, que é ancestralmente a escolha dos yôgins, permite que o organismo receba bioenergia dos alimentos, compensando até o desgaste celular. O prána, que é energia de origem solar (define-se como qualquer tipo de energia manifestada biológicamente), pode ser absorvido através da luz, do ar, da água e dos alimentos. Esta força é a que importa absorver, para ampliar a energia susceptível de nos levar a estados de consciência expandida.
No Yôga Antigo, rejeitamos a carne de animais mortos, não só pela barbárie de matar seres semelhantes a nós, mas também porque não necessitamos de ingerir células mortas, já sem nenhum tipo de energia, em processo de deterioração, que encherá o nosso organismo de toxinas. O nosso metabolismo necessita sim de substâncias nutritivas que lhe permitam libertar energia que possa ser catalizada e transformada. É por essa razão que, desde as suas origens, a tradição nutricional que acompanha o Yôga é extremamente variada e inclui todo o tipo de frutas, cereais, vegetais, raízes, sementes, ovos, leite e todos os seus derivados.
Curiosamente, esta preferência alimentar tão antiga, está agora a ser valorizada pelos estudos mais recentes em nutrição. É também normal que, à medida que a humanidade evolui em termos de civilização, se afaste dos predadores selvagens, que matam e devoram os outros animais, incluindo aves e peixes.

08 abril 2010

Egrégora

Egrégora é o poder gregário gerado pela força de coesão de dois ou mais indivíduos. Tem o poder de induzir fortemente os membros de uma comunidade a agir, sentir e pensar dentro de um padrão. Pode ser interpretada como um segmento do inconsciente colectivo, relativo a um grupo específico.
DeRose in Programa do Primeiro Ano do Curso Básico de Yôga
No mundo ocidental, o poder do grupo não é tão fácil de entender como no oriental. Na Índia, é no grupo que assenta a organização social, muito devido à sua História e religião. Enquanto na Europa os vários povos lutaram entre si, conquistando-se e expulsando-se sem que várias tribos ou grupos coexistissem no mesmo território, na Índia (o país mais invadido da História), muitos grupos tiveram de achar um meio de viver juntos. Encontraram na coexistência separada e não na fusão (que se verificou na Europa), a chave para a sua sobrevivência. Tal tornou-se possível graças ao hinduísmo, formado por vários pontos de vista, ou darshanas. O Yôga, por exemplo, é um dos seis darshanas, o sámkhya (filosofia teórica naturalista na qual o Swásthya Yôga se apoia) é outro, bem como o vêdánta (que se opõe ao sámkhya...).
Em vez de absorver os povos que afluíram ao território, o hinduísmo envolveu-os. De modo que qualquer grupo com costumes específicos poderia ser largado na Índia e, vivendo à parte, conviver amistosamente com os que já lá estavam. Tanto as culturas judaico-cristã como a islâmica se baseiam na pregação de uma verdade única: para um hindu, a verdade depende do ponto de vista. As castas exemplificam a coexistência das diferentes verdades. Neste sistema, a unidade social não é o indivíduo, mas o grupo a que ele pertence, uma vez que cada um se insere hereditariamente num grupo. Cada casta ocupa o seu lugar numa hierarquia rígida, baseada em regras complexas e restrições e todas as castas têm uma posição social inferior ou superior à das outras.
Embora não tendo a mesma organização social, conseguimos sentir no ocidente a força e poder de um grupo. Já experimentou mudar sózinho a forma de agir e pensar de um grupo? Tarefa dificílima: o grupo encontrará maneira de contornar o factor subversivo e continuar exactamente igual. Se, por exemplo, o seu grupo de trabalho tiver gerado uma egrégora à qual não se consegue adaptar, é mais fácil afastar-se do que conseguir mudá-la. A força de coesão que se gera dificilmente alterará o seu padrão.
Do mesmo modo que se encontar sintonia com um determinado grupo, a sua força será ampliada, tal como a de um bando de gansos em vôo. Se observar uma formação de gansos em vôo, verá que se organizam num v, revezando-se na frente quando o lider se cansa, enquanto os que se colocam atrás grasnam para encorajar os da frente.
Urge também identificar egrégoras compatíveis e incompatíveis. Se tiver uma egrégora de família e outra de religião, elas serão compatíveis por serem de ordem diferente. Mas se, por outro lado, tiver duas egrégoras de dois grupos de futebol, elas tornar-se-ão incompatíveis, dada a semelhança.
É por esta razão que o Mestre DeRose desaconselha a prática de Yôga de mais do que uma linhagem. Escolha aquela com que se identifica e não a misture com práticas noutras escolas, para não incorrer no choque de egrégoras, que acabará por o prejudicar. O ideal é que concentre as suas energias em aprimorar-se nas técnicas indicadas pela sua linhagem, ajudando o grupo a evoluir e evoluindo somando as energias do grupo às suas.
A dispersão provoca desgaste e perda de energia. Se for em excesso, pode até causar graves danos de saúde, sem que o indivíduo se aperceba do que lhe está a acontecer. Pergunta-se frequentemente se o Yôga pode ser misturado com desporto. Claro, pois Yôga é filosofia e não colide com desporto algum. Também não gera qualquer incompatibilidade com artes marciais, pelo contrário, constituem excelentes complementos.
Note, também que seja qual for o grupo ou egrégora no qual se integre, quanto mais se envolver e se entrosar com os outros elementos, mais fortelece a sua performance e (ou) conhecimento associados a essa egrégora, seja ela de família, desporto, religião, filosofia ou outra.
Talvez a compreensão do fenómeno da egrégora ajude o mundo ocidental de hoje a coexistir de um modo cada vez mais amigável. Os povos adquiriram extrema mobilidade e as várias comunidades que coexistem hoje no ocidente, poderiam relacionar-se de uma forma bem mais pacífica, se cada grupo se ocupasse em fortalecer a sua egrégora em vez de se preocupar com as outras.