02 janeiro 2015

A Voz Interior

O mundo de fora entra constantemente pelas janelas dos sentidos. É por meio destes que vamos construindo o conhecimento que temos do mundo, das coisas e das pessoas. Há algo mais, no entanto. Impressões internas, por vezes fugazes, que não sabemos muitas vezes o que são exactamente, nem como lidar com elas. São pequenos nadas, sensações, sentimentos,  aparentes coincidências, algo que se vê, ouve ou lê e fica a ressoar. Não provêm da mente, embora deva ser esta a equacioná-los em seguida, com abertura genuína para que os possa observar com clareza. São expressões da voz interior, ou interferências da inteligência superior, se assim preferir.

Tudo em nós está ligado e se interpenetra. Por isso o corpo pode manifestar essas interferências da inteligência superior sob a forma de sensações físicas, por exemplo uma pressão no peito, um aperto no estômago, uma sensação de contracção ou por outro lado de expansão, leveza, ou outras. Podem ocorrer sentimentos inexplicáveis de alegria, por exemplo ao olhar pela primeira vez para alguém que se acabou de conhecer, ou um impulso inexplicável. Algo pode também surgir na sua mente sem que o tenha pensado, eventualmente desenquadrado e fora de propósito, como um flash.

No entanto, há impressões que surgem de fora, mas que ressoam em nós incompreensivelmente. Podem aparecer num livro oferecido por alguém, um video que foi recomendado, coincidências em que é difícil não reparar, uma  imagem que desperta particularmente a atenção ao passar na rua, um número em que se repara e se repete, uma palavra que surge insistentemente, ou uma cor, uma forma, uma música que não sai da cabeça…

A vida corre à milésima de segundo e para reparar nestas impressões subtis é necessária uma pausa para as observar e registar. Estar descontraído ajuda, mas o que faz a diferença é mesmo estar presente no momento e prestar atenção tanto ao exterior como ao interior, em diálogo contínuo.

Não serão de esperar conceitos completos, estas informações são fragmentadas. Por vezes, peças de um puzzle que se vai formando aos poucos. Necessitam de confiança para que continuem a manifestar-se, abertura para que o julgamento não as descarte prematuramente e se percam. Constituem a expressão da voz interior, que pode não parecer coerente, ser incompreensível até, mas que em determinado momento pode fazer todo o sentido. Dar-lhes espaço é uma procura de alinhamento com a verdade de si mesmo. É estreitar laços com o que é genuinamente seu e a que pode dar expressão, de forma a materializar o contributo único do ser único que é, capaz de co-criar o mundo à sua volta.
Lina Chambel