O neurocientista português António Damásio identificou o
córtex pré-frontal como a zona do cérebro responsável pela generosidade. Num
estudo publicado na revista “Biological Psychiatry”, a psicóloga americana
Sarina Saturn, da Universidade do Oregon, verificou que o sistema nervoso
simpático e parassimpático são activados perante imagens de actos de compaixão.
Testemunhar um acto altruísta desperta no indivíduo o impulso da generosidade e
gera empatia. O neurocirurgião João Lobo Antunes concorda e em entrevista ao
jornal Expresso (04/06/2015) diz que “sim, a bondade é contagiosa – o problema
é haver tanta gente vacinada contra ela...”.
Que vacina poderosa é essa, que impede a manifestação de um
impulso natural? Os estudos de Gregory Berns, professor de ciências
comportamentais na Universidade de Emory, levam-no a afirmar que o impulso
altruísta para cooperar nos está gravado biologicamente. Mais longe ainda vai
Dacher Keltner, professor de psicologia na Universidade da Califórnia, que
descobriu que outros aspectos físicos seguem uma programação de bem estar
durante actos de generosidade: o ritmo cardíaco desacelera, o sistema nervoso
autónomo descontrai e a produção de oxitocina, a hormona do amor, aumenta. Tudo
se conjuga para maximizar o bem estar e prazer interiores durante o exercício
da generosidade e, nesse sentido, é algo que melhora a satisfação do indivíduo,
da qual depende a qualidade do sistema imunitário e a condição geral de saúde.
Que vacina poderosa é essa, que impede a manifestação de um
impulso natural? A generosidade não só é estimulada no praticante de Yôga, como
no caso do Yôga Antigo (Swásthya Yôga) ela é tão valorizada, que lhe é
consagrada uma das oito partes da prática ortodoxa (a segunda, o pújá). Há uma
eternidade que os mestres de Yôga sabem que a expansão da consciência depende
da capacidade de dar. A entrega espontânea e sentida dos melhores sentimentos consagra
o espaço em que a prática decorre, liga aqueles que praticam juntos numa mesma
vibração altruísta, une-os a toda a humanidade e ao cosmos através da dádiva. O
facto de ser executada com atenção plena, eleva os níveis de frequência
eléctrica do cérebro e aumenta determinadas amplitudes de banda (estes aspectos
foram já medidos por EEG, se bem que o praticante de Yôga adiantado conheça tão
bem os seus efeitos, que não precise de os ver confirmados pela ciência). Na
sequência das experiências efectuadas com monges budistas em meditação
compassiva, orientados pelo rinpoche doutorado em genética molecular Matthieu
Ricard, ficou claro que por força da diminuição de actividade nos lobos
parietais (responsáveis pela distinção do “eu” e do “não eu”), a concepção da
individualidade se esfuma e a de unidade ganha substância. Este aspecto ocorre
não só durante a prática de meditação, como também fora dela, caso se trate de
um praticante treinado. Assim sendo, quanto mais se pratica a generosidade,
menor o egoísmo.
Que vacina poderosa é essa, que impede a manifestação de um
impulso natural? O egoísmo, que tantos afirmam ser característica inata do ser
humano, isola-o e impede-o de desfrutar do bem estar físico que o altruísmo
desencadeia. É possivelmente sintoma de uma qualquer patologia que impede o
contágio da bondade na raça humana, tal como a conhecemos hoje. Um
condicionamento exterior à sua natureza, algo aprendido de fora, um padrão
tantas vezes reiterado que se tornou seu sem nunca ter sido? Que vacina
poderosa é essa?
Lina
Chambel