17 setembro 2015

O Individual e o Colectivo

Hoje, mais do que nunca, valorizamos a individualidade. O elevado nível de competitividade em que vivemos exige que cada um marque a sua diferença, aprimore as suas mais valias e conquiste um lugar para si. É uma afirmação exterior, que se vai construindo em paralelo com a imagem que pretendemos que os outros tenham de nós.

O grupo ou grupos em que nos inserimos, são um factor preponderante nessa construção. Escolhemo-los pela afinidade. Procuramos gostos comuns, formas de estar semelhantes, ideias parecidas, comportamentos idênticos. No fundo, reforçamos a nossa identidade, já que a bitola somos nós mesmos. Validamo-nos através dos outros, provando que estamos certos nas opções. Diz o ditado popular, “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Há uma boa dose de conforto e segurança no contacto com o “outro” igual ao “eu”, para além de que ele preenche a necessidade de integração.

No entanto, é fora da zona de conforto que a evolução se dá. Muito do conhecimento de nós próprios advém do contacto com os outros e não avança muito se ficar limitado preferencialmente à constante recriação do “eu”. Na diferença, podemos ser postos em causa, equacionar perspectivas e escolhas, enquanto na semelhança tendemos a reiterar continuamente os mesmos padrões.  

Por outro lado, preferindo um determinado grupo de pessoas, separamo-nos das outras. Se olharmos bem, há muito mais exclusão do que inclusão nos nossos relacionamentos, mais separação do que união e essa é provavelmente uma das maiores causas de sofrimento e violência no mundo ocidental dos nossos dias.

Na nossa cultura, consideramos este mecanismo natural. A um nível aparente, poderia ser, não fosse a capacidade inata que todos temos de nos “sincronizar” uns com os outros. Quando dois seres humanos se encontram, ambos geram um espaço comum, com uma identidade própria, onde nenhum deles é sujeito e objecto e onde ambos se ampliam através da ressonância da humanidade comum. A empatia brota naturalmente, a menos que os indivíduos coloquem barreiras capazes de a bloquear. É muito mais o que nos une do que o que nos separa. A um nível profundo, a comunhão com outro ser humano, independentemente das aparentes semelhanças ou diferenças, permite a vivência das verdadeiras qualidades de cada um, livre de preconceito. Só quando conseguimos deixar de lado os julgamentos, podemos apreciar em pleno o outro e a sua singularidade única.


Afinal, é perda de tempo querer provar ao mundo o quanto valemos, é inglório refugiarmo-nos na semelhança do grupo: cada um de nós é peça inédita na engrenagem gigante da humanidade e essa é só uma. Encontra-se essencialmente  ligada nos níveis inferiores e superiores da consciência, com vínculos indestrutíveis, por muito que queiramos fazer valer as diferenças. É tempo de mudar de perspectiva e ajustar o foco. Na conexão de todos, cada um é único.

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