Hoje, mais do que nunca, valorizamos a individualidade. O elevado
nível de competitividade em que vivemos exige que cada um marque a sua
diferença, aprimore as suas mais valias e conquiste um lugar para si. É uma
afirmação exterior, que se vai construindo em paralelo com a imagem que
pretendemos que os outros tenham de nós.
O grupo ou grupos em que nos inserimos, são um factor
preponderante nessa construção. Escolhemo-los pela afinidade. Procuramos gostos
comuns, formas de estar semelhantes, ideias parecidas, comportamentos
idênticos. No fundo, reforçamos a nossa identidade, já que a bitola somos nós
mesmos. Validamo-nos através dos outros, provando que estamos certos nas
opções. Diz o ditado popular, “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Há
uma boa dose de conforto e segurança no contacto com o “outro” igual ao “eu”,
para além de que ele preenche a necessidade de integração.
No entanto, é fora da zona de conforto que a evolução se dá. Muito
do conhecimento de nós próprios advém do contacto com os outros e não avança
muito se ficar limitado preferencialmente à constante recriação do “eu”. Na
diferença, podemos ser postos em causa, equacionar perspectivas e escolhas,
enquanto na semelhança tendemos a reiterar continuamente os mesmos padrões.
Por outro lado, preferindo um determinado grupo de pessoas,
separamo-nos das outras. Se olharmos bem, há muito mais exclusão do que
inclusão nos nossos relacionamentos, mais separação do que união e essa é
provavelmente uma das maiores causas de sofrimento e violência no mundo
ocidental dos nossos dias.
Na nossa cultura, consideramos este mecanismo natural. A um nível
aparente, poderia ser, não fosse a capacidade inata que todos temos de nos
“sincronizar” uns com os outros. Quando dois seres humanos se encontram, ambos
geram um espaço comum, com uma identidade própria, onde nenhum deles é sujeito
e objecto e onde ambos se ampliam através da ressonância da humanidade comum. A
empatia brota naturalmente, a menos que os indivíduos coloquem barreiras
capazes de a bloquear. É muito mais o que nos une do que o que nos separa. A um
nível profundo, a comunhão com outro ser humano, independentemente das
aparentes semelhanças ou diferenças, permite a vivência das verdadeiras
qualidades de cada um, livre de preconceito. Só quando conseguimos deixar de
lado os julgamentos, podemos apreciar em pleno o outro e a sua singularidade
única.
Afinal, é perda de tempo querer provar ao mundo o quanto valemos,
é inglório refugiarmo-nos na semelhança do grupo: cada um de nós é peça inédita
na engrenagem gigante da humanidade e essa é só uma. Encontra-se essencialmente
ligada nos níveis inferiores e
superiores da consciência, com vínculos indestrutíveis, por muito que queiramos
fazer valer as diferenças. É tempo de mudar de perspectiva e ajustar o foco. Na
conexão de todos, cada um é único.
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